A vida sempre vence

A vida prega peças na gente. Muitas vezes, demoramos meses ou até anos para entender o que determinada situação que ocorreu conosco realmente significou. Não sei você, mas acredito que nada é sem razão e o acaso não existe. No entanto, enquanto estamos vivendo o furacão emocional em que nos encontramos é um desafio quase impossível racionalizar e encarar o nosso lado Pollyanna de que algo de bom sairá daquilo.

Esse primeiro parágrafo, acredite, eu escrevi em fevereiro e, em nada, tinha a ver com a pandemia que iríamos enfrentar nos meses seguintes. Vou deixar abaixo a continuação desse texto que comecei a produzir nessa época e não consegui concluir para publicar aqui:

“Logo digo: Estou no meio do furacão. Portanto, acho que esse não seria o momento ideal para escrever para você, cara leitora, especialmente se você veio em busca de respostas a partir do título que te chamou atenção. Na verdade, dessa vez, devo confessar, sou eu quem busca o socorro por meio das minhas próprias palavras. Elas sempre me ajudam a exorcizar sentimentos mal digeridos. Por isso, me desculpe: usarei esse espaço para isso e peço licença, compreensão e um colo virtual!

Em todos os textos que já escrevi para o Futi Papo falei sobre se permitir, não ter medo do inesperado e aproveitar cada oportunidade para viver aquilo que deseja. E não é à toa. Esses textos são reflexos de quem eu sou e de como busco levar minha vida. Em cada linha exponho experiências vividas e sentimentos que fizeram seus abrigos em mim. E talvez, por isso mesmo, eu me sinta à vontade para fazer esse relato (embora eu já esteja há meia hora olhando para a tela do computador sem saber por onde começar a contar minha história). 

Mas, acho que não estou pronta…”

De fato, eu não estava pronta.. não é a toa que volto a pegar nesse texto meses depois que escrevi esses trechos. E, de repente, vejo que o sentido dele mudou completamente. O furacão ao qual me referi virou uma marolinha e, no lugar dele, um tsunami alagou não só a mim, como a todo mundo.

E é por isso que vejo que essas primeiras linhas que escrevi ganharam um novo sentido que, talvez, crie identificação com mais pessoas. Percebo que estou vivenciando uma fase em que, em determinados dias, fica difícil enxergar o que de bom sairá dali. Na verdade, me sinto culpada em pensar em um “novo normal”, quando vidas foram perdidas, famílias destruídas. Para, pelo menos, 100 mil pessoas, o normal jamais existirá e muito menos haverá um sentido para tanta dor.

Eu, no alto do meu privilégio, mal posso dizer que sofri consequências reais com essa pandemia. Mas, ainda assim, sinto a angústia, o medo, a revolta e a decepção que ela trouxe. Dizem que quem está totalmente bem não está entendendo nada, né? Acho que é bem isso. Conseguir levar uma vida normal, hoje, vai além de ser um privilegiado. É ter atestado de alienado. Por isso, estamos todos mal. Ou quase todos.

Me questiono ainda se há um propósito para isso, como disse, no início do texto, acreditar em tantas outras situações. Será que esse é um mal que vem para o bem? Mas para o bem de quem?

Uma das frases que mais gosto do Emicida, na verdade, é da mãe dele. Na música “Ordem natural das coisas”, o rapper diz: “A vida sempre vence”. Procuro pensar nela quando estou mal; quando não vejo um fim para a tempestade.

De alguma forma, a vida se renova, mesmo diante de tantas perdas, e assim seguimos, né?

Me questiono então se, levando em consideração o nome da canção, é a própria vida que, ao vencer, trata de organizar uma nova ordem natural. E, quando mal nos dermos conta, a calmaria vem também para os nossos dias. Espero que assim seja. Para mim; para todos nós.

Deixe um comentário