Faz um tempo que eu não acompanho mais o mundo da moda como antes. Mas recentemente me deparei com notícias de marcas que estão vendendo roupas e acessórios virtuais.
Sim, você compra algo apenas para postar nas suas redes sociais, mas você não recebe o objeto físico.
Um desses achados imperdíveis é um tênis da Gucci, que você pode comprar por $12 (a nível de comparação, um tênis de verdade da marca não sai por menos de $600) e receber um filtro para usar nas redes sociais. Esse filtro coloca o modelo escolhido por você no seu pé.
Também saiu a notícia que algumas marcas de roupas estão vendendo peças virtuais, com preços que variam de R$150 a R$49.000. Você paga, manda sua foto e eles te mandam a roupa escolhida inserida digitalmente na sua pose.
E aí eu te pergunto, tem necessidade disso?
Na minha cabeça, a ideia de uma roupa virtual pode até fazer sentido, principalmente em um mundo que ainda está cruzando uma pandemia. Vou ignorar a parte logística para pensar nas possibilidades ok? Vejo essa prática sendo útil na hora de ajudar mulheres com compras online, por exemplo. Muitas ainda se sentem apreensivas em e-commerces porque não sabem como as roupas ficarão em seus corpos. Se existisse uma forma de vermos como a roupa vai ficar, a quantidade de devoluções e retornos talvez diminuiria.
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O estilista Cairê Moreira tem feito um trabalho incrível de mapeamento corporal de seus clientes para que os ajustes nas peças sejam feitos virtualmente antes de trazê-las para o mundo físico. Isso pode excluir excedentes e criar roupas que não dependem de numeração respeitando as individualidades de cada corpo. É considerado um futuro possível na moda. Ele também tem estudado como a criação digital pode ajudar marcas a produzirem suas campanhas sem envolver muitas pessoas em época de isolamento.
Mas é isso que estamos vendo na prática?
Não muito. Muitas marcas estão apostando todas as suas fichas em influenciadores. Uma delas, chamada Tribute, afirma que seus consumidores são pessoas cujo habitat natural é o mundo virtual (alô, Black Mirror). Tem também quem diga que: “Looks virtuais podem satisfazer a necessidade humana de procurar novidades e estéticas prazerosas, trazendo o mesmo up na autoestima em pessoas que usam roupas diferentes a cada post em suas redes sociais, mas sem fazer que com as roupas sejam mandadas para aterros depois.”
Quando eu ouço isso, eu até entendo por quê algumas (ainda poucas) marcas que estão apostando nos modelos virtuais e tentando vender essa ideia como sustentável. De fato o aumento do uso das redes sociais aumentou também o consumismo, e isso de fato é um problema. Mas sei lá…vocês também não ficam pensando que o maior problema nessa história toda é quem precisa ter uma roupa nova a cada post da rede social?
Vejo muitas discussões de como muitas blogueiras de moda não souberam se reinventar na pandemia justamente por essa causa. Em um momento onde o mundo todo estava se isolando, sem comprar muitas coisas e, no máximo, investindo em robôs aspiradores, itens para fazer exercícios em casa e peças confortáveis, quem aparecia toda emperiquitada, com uma roupa nova a cada dia e sem muita informação por trás, mostrava uma desassociação total com o resto do mundo.
O que era inspiração, virou cafona.
Toda essa discussão me lembra o filme Fake Famous, que fala justamente sobre a criação de uma vida falsa para vender uma realidade aspiracional que não existe fora do ambiente online. Em cada cena, conseguimos ver o vazio e a falta de propósito que uma vida feita apenas para agradar um público virtual gera nas cobaias do experimento.
Mesmo com os likes, mesmo com os comentários, nada preenche verdadeiramente. É tudo uma ilusão, tal como vestidos e sapatos virtuais. Essas marcas que estão apostando suas fichas nisso parecem que realmente conhecem seu público alvo. Mas será que conhecem as pessoas influenciadas por esse público? E você? Cairia nessa se visse alguém que você segue apostando nesse tipo de moda?