Atire a primeira pedra quem nunca comentou sobre o peso de outra pessoa ou recebeu aquele tipo de comentário deselegante: “Como você engordou!”, “Nossa, você está linda assim, magra!”, “Nossa, está tão magra que parece um esqueleto”, “Credo, parece uma baleia”, “Ela tem um rosto lindo, pena que é gordinha”. Ou então quem já colocou apelido nos outros ou recebeu apelidos tipo: “baleia”, “vaca”, “baiacu”, “magrela”, “olívia palito”, “filé de borboleta”, “esqueleto” e tantos outros. E aí, se identificou? Com quem falou ou com quem recebeu o comentário? Podemos nem falar diretamente a alguém conhecido, mas pense se você já fez esse tipo de comentário a respeito do peso ou do corpo de alguém famoso. Pois é….
Eu sempre me pergunto qual a necessidade que as pessoas têm de comentar sobre o peso ou o corpo das outras? Parece que se sentem na obrigação, mas no final das contas, o que elas têm a ver com isso? Primeiramente, não, você não está “dando um toque” à pessoa, você está mexendo diretamente com a autoestima dela e isso pode trazer inúmeras consequências.
E qual o problema dessa prática tão comum e que muitas vezes é vista de forma inofensiva? Primeiramente, vivemos num mundo tão maluco, onde a forma física é tão importante, vista inclusive como valor de caráter e sinônimo de sucesso que ao fazer esse tipo de comentário estamos empoderando isso. Em segundo lugar, ao receber o comentário de que emagrecemos vimos como uma conotação de elogio, uma vitória, pois ser magro seria um elogio quase que semelhante a ser uma pessoa bem sucedida em todos os aspectos da vida. Pergunte isso a alguém que é magro e sofre tentando ganhar quilos ou massa muscular para você ver que não é nada disso. Ao mesmo tempo quando comentam que ganhamos peso isso pode trazer um estrago emocional imenso, parece que levamos um tapa na cara na autoestima e invariavelmente vem acompanhado de um tsunami de pensamentos e sentimentos como autodepreciação, derrota e muita culpa.
Em terceiro lugar, não sabemos se a pessoa trava uma batalha interna quanto a esse assunto. Ela pode ser portadora de algum transtorno alimentar como anorexia ou bulimia nervosa, onde a busca pela magreza é parte fundamental da vida dessas pessoas (e você pode nem saber que ela luta contra isso), e aí imagina só você comentar a uma bulímica que ela engordou? Ela pode, em questão de segundos, a partir do seu comentário, regredir todas as conquistas que teve até agora em seu tratamento. Pode ser devastador! E uma anoréxica? O seu comentário “nossa, como você está linda e magra!” vai reforçar todos os comportamentos errados que ela pode estar fazendo para tentar atingir aquele corpo que ela definiu como perfeito. Ela vai pensar: poxa, tudo isso que estou fazendo está valendo a pena, as pessoas estão até comentando, então vou continuar nesse caminho! E vai achar que nunca precisa se tratar pois os resultados estão aparentes e as pessoas comentando. Imagina o estrago que você está proporcionando nessas duas situações?
Se ao encontrar uma pessoa conhecida e elas estivesse usando uma roupa que não faz o seu estilo ou até mesmo de gosto duvidoso, você comentaria? Ou no seu trabalho, se após uma apresentação de um colega que você achou ser catastrófica, você diria isso a ele? A educação manda que em nenhuma dessas situações a gente faça esse tipo de comentário, então por que com o peso seria diferente? Por que as pessoas se sentem no direito ou na obrigação de comentar sobre o corpo das outras?
Quando vi essa piadinha de internet sendo postada por algumas pessoas que eu conheço confesso que fiquei assustada. Sim, é uma piada, mas que tal voltarmos ao básico, como foi discutido em outro post , o que realmente importa? Ouvir que emagreceu vale mais do que ouvir “eu te amo”? A pessoa demonstrar o sentimento dela por você ou comentar sobre sua forma física?
É fácil mudar esse padrão viciado julgador e cruel? Não é, mas uma forma de começar é fazer o exercício de tentar nos colocarmos no lugar do outro. Você gostaria de ouvir as palavras que está dizendo? Provavelmente não! O que você sentiria ao ouvir suas próprias palavras? E o que será que a pessoa sentiu na hora que você disse?
Que tal valorizarmos as pessoas como elas realmente são, a forma como se relacionam com você, os sentimentos positivos que elas despertam em você, os momentos bons que vocês viveram juntos? Pensando assim, realmente a forma física ou o peso delas importa? Aposto que você pensou que não.